Sempre acreditei que poderia ser uma “Six Star”

por Fernanda Paradizo

Sou analista de perfil comportamental e como boa “dominante”, logo após uma decisão, já planejo várias ações como “o que fazer para alcançar o quanto antes minhas metas”. Era sedentária até 2013. Até então já tinha tentando correr algumas vezes, mas nada consistente. Em 2014, numa viagem a trabalho para a Disney, vi meu chefe correr o Desafio do Dunga. Sem correr nem 5 km, quis fazer o Desafio. O primeiro ponto foi garantir a inscrição no site (março de 2014). Já estava conseguindo correr 10 km. Depois de inscrita, sabia que tinha que aumentar minhas distâncias. Treinava no parque da cidade e conheci um grupo de corrida, a KMC, que me deu um ciclo social e apoio para correr. Passei literalmente a fazer todas as corridas de final de semana. Depois de duas meias no Rio, uma em julho e outra em agosto, em setembro, corri mais uma meia, em Punta del Este, onde fiz meu melhor tempo (sub 2h). Uma semana depois viajei para a Europa e coloquei Rock’n’ Roll Marathon de Lisboa como meta. Antes da prova, estava na Dinamarca visitando um amigo. Saí para correr enquanto ele trabalhava e fiz um longão sem perceber. Eu me perdi e, quando consegui voltar para casa, já tinha corrido 36 km. Em Lisboa, fiz uma corrida mental e uma coisa que sempre me ajudou: me diverti tirando fotos e filmando ao longo da corrida. Meu lema em 2014 era “work hard, play hard”. A partir daí, se o dinheiro cabia na parcela, eu ia. E depois ganhava mais dinheiro e gastava com viagens de corrida. Hoje tenho uma mentalidade diferente.


MAJORS BRAZIL: Você fez sua primeira Major em 2016 em Berlim e dali em diante foi numa sequência curta entre elas, já emendando Chicago e Nova York em 2016 e Tóquio, Boston e Londres em 2017. Ou seja, em 7 meses já havia completado as 6 Majors. Como foi conciliar tantas provas e viagens em tão curto espaço de tempo?


Eu dei o comando que ia dar certo. Afinal, não ia gastar o dinheirão todo com a viagem e voltar sem a medalha. Sempre fui muito disciplinada quando determinava a fazer algo. Tanto que 2014 e 2015 corri quase todas as provas de rua em Brasília. Mas uma coisa que fazia era cumprir o treino e ainda fazia crossfit, que me deu um excelente condicionamento físico. Eu não fazia muitas coisas além de correr, treinar, trabalhar e viajar. Era legal, mas comecei a perceber que era disfuncional. Eu buscava aprovação das pessoas para me sentir importante. Corri a primeira Major em 2016. E dei tantos “tiros” para fazer as Majors que todas acabaram saindo de uma vez.

MAJORS BRAZIL: Falando um pouco de Boston, você foi por agência e não por índice. Foi algo que aceitou “para você mesma” logo de cara? Ou seja, se quisesse incluir a legendária Boston no seu currículo, teria que recorrer a agência ou mesmo caridade? Muitos corredores não aceitam Boston sem índice. Sofreu algum preconceito por isso? 

E
m abril de 2014, época da maratona, fui para Boston para visitar uma amiga, que morava a uma quadra da largada da prova.  Foi um ano depois do atentado. Senti aquela energia e por um instante quis estar ali correndo. O clima “Boston Strong” era de arrepiar. Foi ali que decidi que queria, mas nem sabia como. Nossa mente pode ser nossa maior força ou nosso maior sabotador. Naquele momento eu poderia escolher esquecer da sensação e me manter na ideia de que Boston não era para mim. Afinal, só os corredores mais rápidos estão ali. Que ousadia a minha querer! Mas ao longo do processo fui correndo e angariando experiências. Maratona para mim é oportunidade de autoconhecimento, superação, mas antes de tudo diversão, troca de culturas, sorrisos e energia. Para alcançar algo, temos que abrir leque de possibilidades para descobrirmos em qual nos encaixamos. Em todas as Majors, existem esse leque: índice para a prova, sorteio, agência credenciada ou caridade.

Aprendi que preconceito vem da nossa cabeça, por uma idéia coletiva que nos é imposta. Sabendo que havia preconceito entre os corredores mais rápidos, pensava: “Quais são as minhas possibilidades para realizar essa prova, já que ela faz parte da jornada que terei que percorrer para a medalha maior?” Foi assim que conheci a Kamel em 2014. Mandei um e-mail e esperei. Entrei na fila e, mesmo pagando, sabia que seria difícil uma vaga. Mas sabia também que por índice não iria, pois nunca tive biotipo “padrão” e também não estava disposta a ficar treinando muito mais por tempo. A corrida era meu lazer, não minha profissão. Vi muita gente se lesionando por querer ir muito além com o corpo. Eu ia “devagar e sempre”. Só fui ter acesso à vaga em 2017, e foi fantástico para mim. Mentalizei já concluindo as 6 Majors. Nunca fui sortuda, nunca fui rápida, mas sempre acreditei que de alguma forma eu poderia ser uma “Six Star”.


MAJORS BRAZIL: Além da dificuldade de conseguir uma vaga para Boston, para completar as Majors, teve que correr atrás de uma inscrição para Londres, que você foi por caridade. Como foi o processo?

A maior dificuldade foi realmente Londres. Entrei no site de todas as empresas de caridade e me inscrevi em 2016. Próximo ao meu aniversário de 2017, tive a notícia da desistência de um voluntário por lesão. Tomei um susto com o valor, que era em libras, mas resolvi seguir adiante. Na época, eu tinha vergonha do dinheiro que ganhava em relação às pessoas de meu convívio e de usufruir disso. Então não sofri muito em doar. A parte financeira estava controlada. Paguei tudo do meu bolso. Fiz a dobradinha famosa: na segunda-feira Boston e, no domingo da mesma semana, Londres. Já entrei em contato com a empresa da WMM para sinalizar que seria minha  última prova. E vou contar um segredo: como queria tirar a foto com todas as medalhas, corri a maratona com as cinco no meu corpo. Conheci outros voluntários e foi uma experiência incrível. Conhecer a causa pela qual você corre é de arrepiar… te da um gás. Algumas coisas não têm preço. Quando completei as Majors em Londres, um amigo me alertou: “Você faz parte das poucas mulheres com esse feito”. Sabe qual era meu defeito? Eu não celebrava essas conquistas. Quando vejo lá em casa as medalhas, as fotos, percebo que fui forjada ao longo dessa linha azul das maratonas.

MAJORS BRAZIL: Como descreveria hoje cada uma das Majors que participou?

Cada prova tem sua beleza. Berlim por toda a história cultural e por ser uma prova plana. Chicago foi um prova bem funcional, com clima ameno e todas as atrações na cidade, como teatros e o Bean,  aquele “grande olho”. Nova York é uma prova mais clichê, com largada perto da estátua da liberdade. Corri na época das eleições americanas e havia várias plaquinhas com trocadilhos da população ao longo do caminho. Passamos por tantos bairros e culturas variadas. Tóquio é algo totalmente diferente e acredito que essa foi essencial ir com a Kamel. Numa terra em que não entendo nada do que dizem, o sorriso das famílias batendo em nossa mão enquanto corremos não tem preço. Japão é um país de cultura, educação e história incríveis. Amei correr e viajar para lá. Boston tem essa elitização dos corredores mais rápidos, mas fiquei bem longe dos últimos. As provas nos EUA são grandiosas. Gosto muito da forma prática deles ao lidar com tudo. E, claro, o clima de nacionalismo na cidade é incrível! Tive oportunidade de correr a edição comemorativa de 50 anos da participação feminina na prova e ainda sair na capa da revista da corrida. Foi dupla honra. Sempre que viajo gosto de correr com a bandeira do Brasil. Amo honrar nosso país. Londres também foi muito especial. Correr pelos monumentos, tirar fotos, fazer farra com o pessoal e receber a grande mandala. 

MAJORS BRAZIL: Como estão seus treinos atualmente? Tinha alguma prova para 2020 que teve que ser adiada? Como foi treinar na pandemia para você?

Minha última maratona foi em 2018. Decidi gerenciar melhor o tempo com os vários cursos que estava fazendo. Então não tinha nenhuma prova agendada. Mas fiquei muito agoniada com a pandemia e comi muito. Acredito que a maioria dos corredores identifica vícios que foram substituídos pela corrida. Se você não lida com eles, eles voltam. Precisei trazer um momento de compreensão de meus sentimentos. Só fui ter coragem de voltar a treinar em setembro. Engatei um programa de treinos, nutrição e acompanhamento médico (estava obesa e com vergonha de mim ao mesmo tempo me cobrava muito). Decidi colocar em prática uma frase do Artur Ashe: “Comece onde está, use o que você tem e faça o que puder”. Agora reforcei que a equação da saúde é treino constante e companhia que agrega nos resultados que você quer alcançar.

MAJORS BRAZIL: O que espera para 2021? Já tem alguma prova programada?

Logo após concluir as Majors já tracei a nova meta: uma longa distância em cada continente. Em 2018, foi no Egito, fazendo 4 voltas de 10 km em Luxor na Sexta-feira Santa deles, em janeiro. Falta Oceania e Antártida. A próxima tão logo eu possa tirar férias (sou servidora pública e acabei de assumir carreira militar) , a rota será a Maratona de Sidney, na Austrália, talvez em julho de 2022. Como estive parada das corridas, até chegando a ficar sedentária, neste ano de 2021 retomarei as corridas de longa distância. Lembrei da sensação de liberdade e quantas idéias me vêm ao longo da jornada.

MAJORS BRAZIL: Um aprendizado que gostaria de passar adiante?
Para quem quer correr as Majors, saiba: eu também sou uma pessoa comum como a maioria, ordinária como você, mas decidi pagar o preço da disciplina, o preço do sucesso. Você também pode ir além e se desafiar. Procure mentores, peça ajuda e persevere. Seu destino também é o sucesso.

Fernanda Paradizo
Repórter e Fotógrafa Oficial

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Inscrições abertas para Chicago 2021

por Fernanda Paradizo

Para quem quer correr a 43ª edição da Maratona de Chicago, marcada para o dia 10 de outubro de 2021, e ainda não tem inscrição, é hora de começar a se movimentar para garantir uma vaga. Os organizadores vão abrir mais uma janela de inscrição, dessa vez para quem não estava inscrito em 2020, que vai do dia 12 de janeiro até 18 de fevereiro. Serão cinco semanas para você tentar a sorte na loteria ou pleitear sua inscrição garantida (por índice técnico de faixa etária ou 5 participações ou mais na prova em 10 anos corridos).

Índice por faixa etária
Se você atender aos padrões de qualificação por faixa etária descritos na tabela abaixo, poderá pleitear uma vaga para a Maratona de Chicago 2021. Para se inscrever, é preciso comprovar tempo numa maratona oficial realizada a partir de 1º de janeiro de 2019. Serão consideradas maratonas com percursos certificados pela World Athletics ou pela confederação de atletismo do país.  Após a conclusão do processo, que pode levar até 10 dias úteis, os corredores receberão e-mail sobre o status de aprovação. Para se inscrever, é preciso cartão de crédito internacional. A taxa de inscrição será debitada  quando a inscrição for aprovada. Caso não seja aprovada, o corredor passa automaticamente a concorrer por uma vaga por sorteio.


Faixa etáriaHomensMulheres
19-2903:05:0003:35:00
30-3903:10:0003:40:00
40-4903:20:0003:50:00
50-5903:35:0004:20:00
60-6904:00:0005:00:00
70-7904:30:0005:55:00
80 ou +05:25:0006:10:00



Loteria

Os candidatos serão notificados por e-mail sobre o status da inscrição em março. Para se inscrever, é preciso cartão de crédito internacional. A taxa de inscrição será debitada automaticamente se o corredor for contemplado.

Legacy Finisher
Se você terminou a Maratona de Chicago cinco ou mais vezes nos últimos 10 anos (entre 2011 e 2019), pode garantir sua vaga para 2021 como um “legacy finisher”. Para se inscrever, é preciso cartão de crédito internacional. A taxa de inscrição será debitada automaticamente quando sua inscrição for aprovada.

NÃO CONSEGUI A VAGA. E AGORA?
Se você não faz parte do grupo que pode pleitear uma inscrição garantida e também não teve sorte na Loteria, não se preocupe. Você ainda pode conseguir sua vaga por meio de duas formas: por Operadores Internacionais ou por Caridade.

Operadores internacionais
Essa é a forma mais fácil de conseguir uma inscrição. Os operadores internacionais de cada país credenciados pela organização têm o direito de vender inscrição garantida para a prova vinculada a pacotes turísticos.  Para isso, você precisa fazer ao menos o pacote terrestre com a agência credenciada, com uma quantidade mínima de diária de hotel, e/ou passagem aérea. Isso varia de agência para agência. É uma boa opção principalmente para quem vai viajar sozinho, para quem tem dificuldade para se comunicar em inglês ou mesmo para quem quer viajar em grupo e conhecer corredores de outras partes do país.

Caridade
Outra forma de conseguir inscrição é por meio da Caridade. A janela para esse processo de inscrição está aberta desde 19 de novembro de 2020 e vai até setembro de 2021. O corredor que quiser obter uma inscrição garantida deverá arrecadar fundos em nome de uma instituição que faça parte do programa oficial de caridade da Maratona de Chicago.  As inscrições são limitadas e estão disponíveis por ordem de chegada. O valor a ser arrecadado varia de instituição para instituição (no mínimo, US$ 1.250 + valor da inscrição). Clique aqui para ver a lista das instituições.
https://events.hakuapp.com/events/693fc72f56d76066d987/charity_partners


INSCRITOS EM 2020
Uma janela de inscrição já foi aberta no final de 2020 para corredores oficialmente inscritos em 2020, ano em que a prova foi cancelada por conta da pandemia. Os corredores puderam optar por uma inscrição para 2021, 2022 ou 2023. Aqueles que não reivindicaram a inscrição para 2021 até 15 de dezembro não poderão mais repassar a vaga para 2021. As inscrições serão automaticamente adiadas para 2022 ou 2023.

percorridos, muitas histórias você terá para lembrar e tenho certeza que irá valer muito à pena.

Fernanda Paradizo
Repórter e Fotógrafa Oficial

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Foco, força e fé

por Fernanda Paradizo

A paulistana GISELLE ALBUQUERQUE DE LA HIGUERA, de 51 anos, começou a correr em 2004, com o objetivo de adotar uma atividade física fácil de praticar e que não precisasse nada a mais a não ser um tênis no pé.

Os primeiros passos foram dados numa praça do Real Parque, no Morumbi, com auxílio de um personal trainer e a meta de conseguir percorrer 5 km. Mas a motivação mudou quando Giselle, que é engenheira de alimentos, entrou para a assessoria MPR, em fevereiro de 2005. Não demorou para que quisesse alçar objetivos e distâncias bem maiores. A primeira corrida aconteceu logo três meses depois numa prova em equipe, a Volta à Ilha, em Floripa. Na sequência, veio a oportunidade de estrear nos 21 km, logo na Meia maratona do Rio de Janeiro. “Lembro que terminei com uma sensação maravilhosa no corpo, uma felicidade na alma e uma pergunta na cabeça: ‘Meta dos 21 km atingida. E agora?’.”

Corredora há 16 anos e hoje com 11 maratonas no currículo, Giselle conta aqui como começou sua saga pelas maratonas, como surgiu o interesse pelas Majors, a importância do treino em grupo, a emoção de receber sua mandala e o misto de emoções que viveu após cruzar a linha na Maratona de Boston em 2013, ano da explosão das bombas.

MAJORS BRASIL: O que a motivou a encarar uma maratona em 2006? O fato de estar dentro de um grupo de corrida foi decisivo para arriscar distâncias maiores?

No café da manhã antes da Meia do Rio conheci uma aluna MPR, a Fabia, que também ia correr. Fomos juntas para a largada. Dividimos táxi, ficamos amigas e ela me pôs pilha para fazer a inscrição para Chicago. Fazíamos os longos aos sábados bem cedinho na USP. Começávamos todos juntos. Éramos em 10. Ao longo do treino, formavam os subgrupos com paces diferentes. Os treinos longos foram ficando mais leves e fui sentindo melhoria na minha performance. Durante a semana, fazia o treino na esteira da academia. Nestes longos, ouvia muitas histórias, mas sempre falavam do mito dos 32 km, onde ‘os homens se separam dos meninos’ e começava o sofrimento, que ‘maratona é uma prova de 10 km depois dos 32 km’. Isso só aumentava a minha curiosidade para saber como seria essa sensação no meu corpo, na minha alma. Mal sabia eu que a senhora da situação seria a minha mente.

Fazer parte de uma assessoria como a MPR fez toda a diferença. Possibilitou que eu tivesse suporte profissional, orientação técnica e emocional de um excelente coach como o Fabio Rosa e o acompanhamento de todo time MPR (Marcos Paulo, Emerson e Cesar), além de conhecer pessoas maravilhosas. O maior presente que a corrida me deu foram os muitos amigos que fiz e que tenho na minha vida até hoje e as tantas experiências que vivi.


MAJORS BRASIL: Sobre sua estreia nos 42 km, quais eram seus medos e receios antes de encarar a distância?

Medos de ter vontade de ir no banheiro durante a prova, medo de doer, medo de não conseguir terminar, de não dar conta, de fazer bolha, do pace… sempre fico com ‘borboletas’ no estômago.

MAJORS BRASIL:  E como foi sua estreia em Chicago? Conte-nos um pouco sobre sua prova. Ansiedade antes, o trajeto, ritmo, tempo, momento emocionante, momento mais difícil, a emoção de cruzar a linha de chegada? 

Todas as minhas maratonas têm história, mas sem dúvida Chicago foi inesquecível. Pensa naquela pessoa que fez tudo direitinho nos treinos, alimentação, hidratação. Na feira, tinha aquelas pulseirinhas com pace. Eu tinha duas no pulso para saber qual ritmo seguir de acordo com o plano de prova estabelecido pelo Fábio Rosa. Na hora da largada, minha amiga Lili, já experiente, recomenda para eu não esquecer de ligar o relógio antes para o GPS localizar. Ou seja, não esquecer de apertar o start. E lá vamos nós para a largada. Friaca forte. Largou! Ligo o relógio… e ele parou! Ah?! Isso mesmo! Quebrou na largada. Aí a vontade era de teclar a pausa como num controle-remoto e buscar outro relógio. Totalmente perdida, não sabia como ia fazer para saber o pace que estava. Pensei: ‘Segue o coelho, que está com plaquinha do pace e vai em frente’. Aí vejo 3 amigos ‘amarelinhos’, daquele grupo de treinos de 10 da USP. Fui junto até os 32 km. Estava bem, cautelosa, mantendo ritmo e lembro de meu amigo mandar eu seguir sozinha porque ele estava reduzindo o ritmo e eu tinha ‘lenha para queimar’. Lá fui eu até a linha de chegada. Foi show! Terminei muito feliz, satisfeita com meu desempenho e com o tempo muito melhor do que meu plano de prova e das minhas expectativas (3:46:33).

MAJORS BRASIL: Depois da estreia em Chicago 2006, veio Berlim 2007 e Nova York só em 2010. Neste ponto, você já tinha no currículo teoricamente as maratonas do circuito mais fáceis de conseguir inscrição. Quando de fato começou a perseguir o sonho das 6 Majors?

Consegui o índice para Boston em 2012, na Maratona de Buenos. Na verdade, nunca imaginei conseguir o índice. Na ante-véspera da prova, a MPR organiza um jantar e na mesa um rapaz ficou contando as experiências dele em Boston. Fiquei curiosa para saber qual era meu índice e na mesa olhamos o tempo para minha faixa de idade. Durante a prova, percebi que estava bem, naquele dia em que tudo se encaixa perfeitamente. Tinha feito ao longo do ciclo um acompanhamento com Cassio Siqueira, fisioterapeuta de Organização Postural da Care Club, que me ajudou muito. Quando cheguei nos 32 km, percebi que estava dentro do índice. Gritei para o Cesar, coach da MPR: ‘Qual ritmo tenho que correr para o índice de Boston?’ E ele me respondeu: ‘Faz o melhor que você conseguir’. E fiz. Naquele dia, consegui meu índice para Boston 2013 e RP na distância (3:41). Voltei no mesmo dia para casa. Saí da prova direto para o aeroporto. Cheguei em casa exausta e feliz. Quando fiz Boston que realizei que já tinha 4 das Six Majors, pensei: ‘Nossa, agora só faltam duas. Tenho que fazer’.


MAJORS BRASIL: Boston 2013 foi um ano marcante por conta do atentado. Como foi essa prova para você? Onde estava quando explodiram as bombas? Quais eram as preocupações com outros amigos que estavam na prova, de contatar os familiares para dizer que estava bem? Conte-nos como foi passar por isso e que sensação guarda desta prova?

Boston é uma prova tão desejada que ter conquistado estar lá é uma honra. Terminei exatamente como previsto: 3:52:28. Cruzei a linha de chegada 8 minutos antes da explosão. Estava feliz na esquina da Biblioteca para cruzar e passar debaixo da arquibancada e seguir para a entrada do meu hotel, exatamente no lado oposto da explosão da bomba e no lado da tenda médica. Infelizmente vivi momentos de intensa felicidade por completar a prova e imensa tristeza por ver tamanha crueldade. Quando ouvi, sabia que tinha sido uma bomba. Naquela prova tinha levado o celular no bolso da calça e liguei para meu marido chorando e dizendo para ele que tinha acabado de explodir uma bomba. Lembro de dizer que estava vendo muita gente machucada. Ele não entendeu nada. Tinha me acompanhado virtualmente pelo computador e sabia que eu tinha terminado. Disse para eu me acalmar, ir para o hotel e ligar quando chegasse lá. Tive a oportunidade de fazer um curso antes da prova e conhecer o estilo de vida americano. Posso dizer que conheci o lado bom e o lado ruim, uma sensação de insegurança enorme, sem saber o que iria acontecer. Logo que recebi a medalha tirei uma foto e postei no Facebook. A rede social fez com que meus amigos e familiares soubessem que eu estava bem. No dia seguinte, já estava  previsto meu voo de retorno, que era Boston-NY e depois NY-SP. Acordei cedo e consegui fazer o voo interno. Na hora do embarque do voo entre NY-SP, tinham soldados entrevistando um a um. Fui questionada de onde estava vindo e qual era meu tempo. Fui separada para ser entrevistada e naquele momento tive a certeza que quem tinha cometido tamanha crueldade seria encontrado. As lembranças são fortes e penso que se eu tivesse diminuído meu pace na metade da prova a história hoje poderia ser diferente. Naquele dia meu anjo-da-guarda correu ao meu lado.

MAJORS BRASIL: Depois de 4 Majors completadas, você demorou um pouco mais para fazer outra Major. Houve algum motivo especial ou foi mais pela dificuldade de conseguir a vaga para as outras duas provas que faltavam? Você planejou terminar em Tóquio?

Depois de fazer 4 maratonas em 2 anos com 3 delas tendo ciclos fortes de treinos para subidas, lesionei o glúteo. Levei um bom tempo para recuperar e o que me ajudou entre tantas sessões de fisioterapia foi a eletroacupuntura. Aí melhorei. Além disso, teve também a dificuldade de conseguir a vaga. Só consegui em ambas as provas por ter feito Charity. Não planejei terminar em Tóquio, mas, em virtude de toda questão logística envolvida, ficou por último.

MAJORS BRASIL:  Como foi a Maratona de Tóquio e a emoção de completar as 6 Majors do outro lado do mundo?

Sempre a última parece ser a mais difícil. E foi mesmo. Foi com chuva e muito frio. Foi sofrido. Teve força, foco e fé… muita fé! Tive uma lesão pré-prova 3 semanas antes e fiz muita fisioterapia. Mesmo já sendo uma corredora experiente, rolou aquela insegurança. Não era possível que com tudo planejado eu não iria conseguir buscar a minha mandala. No dia da prova, um frio intenso e garoando, fui com a Fabianna Carnaval para a largada. Encontramos a Pat, também aluna MPR, e ficamos aguardando a largada com capa de chuva e tremendo. Na largada, a Fabi e a Pat tinham plano de prova parecido e o meu era bem mais conservador. Logo que largou senti que estava bem e fui junto com elas, mas decidi ser conservadora e, numa atitude de muita amizade e generosidade, a Fabi decidiu seguir comigo. Corremos juntas até perto do km 28 e foi muito bom.

Nós nos divertimos. Dai pra frente, a prova foi dura. Esfriou muito e no final foi sofrido. Mas tive o grito de incentivo do meu marido, Edu, na reta final. Lembro de pensar ‘caramba, não quero que essa prova termine’. Cruzei a linha de chegada agradecendo por tudo, por ter tido a oportunidade de estar lá e viver aquele momento. Teve a torcida de tanta gente querida. Quando você vai completar as Majors recebe um numeral informando que está na sua última prova. Após cruzar a linha de chegada, todos me cumprimentavam, os japoneses aplaudiam, faziam cumprimentos em uma corredor e aí me encaminharam para uma tenda, onde recebi a medalha. Na hora me emocionei muito.  Pensei em todo o esforço e dedicação que tive para chegar lá. Foi um daqueles momentos que você, com sorriso no rosto e mandala no peito, guarda no coração.  Dormi com a sensação de dever cumprido.


MAJORS BRASIL:  Em poucas palavras, como descreveria hoje cada uma das Majors? Se tivesse que escolher uma para repetir, qual seria?

Chicago é plana e alegre. Berlim, plana e lotada. Nova York, uma festa e difícil por tanto sobe e desce. Boston, inesquecível. Londres, uma prova com propósito de Charity. Tóquio, prova organizada e com trechos repetitivos, com idas e voltas no percurso. Se fosse escolher uma para repetir, seria Nova York. A energia e a vibração te empurram até o Central Park. Prova muito alegre e divertida, mas dura e sofrida. Mas quem disse que eu gosto do fácil? (rsrsrs)

MAJORS BRASIL:  Depois das Six Majors, como ficaram seus objetivos de corrida? Tinha alguma maratona planejada para 2020 ou algum sonho de corrida que teve que ser adiado por conta da pandemia?


Depois das Majors, tenho vontade de correr 3 provas: o Desafio do Dunga, a Two Oceans e o Cruce de Los Andes. Estava inscrita no Cruce para dezembro de 2020. Mas ficou para 2021.

MAJORS BRASIL:  O que a corrida significa para você? Quais os benefícios que trouxe para sua vida? Como é um dia seu de treino e como concilia com as outras coisas da vida, como trabalho, família, lazer?

Lógico que correr faz bem à saúde física e mental, mas não é só isso que me faz colocar o tênis. Corro para me conectar e algumas vezes para desligar. Outras para pensar na vida, para orar e também para me desafiar. Os benefícios foram enormes, como auto-conhecimento, determinação e muitos amigos. Treino sempre pela manhã. Acordo com energia e vontade. A noite não funciona para mim. Para conciliar trabalho e família com os treinos, é fundamental bom planejamento, foco, força e fé.

MAJORS BRASIL:  Quais conselhos daria para quem quer perseguir o sonho das Majors?

Para conquistar esse sonho você precisará de planejamento, determinação e vontade. Escolha um time para te orientar. Um bom coach, nutricionista, fisioterapeuta farão toda a diferença. Muitos quilômetros serão percorridos, muitas histórias você terá para lembrar e tenho certeza que irá valer muito à pena.

Fernanda Paradizo
Repórter e Fotógrafa Oficial

 

 

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De pai para filha

A história da carioca Fabianna Carneiro Carnaval com a corrida vem desde a infância, quando presenciou seu pai, Ronaldo, adotar aos 38 anos a modalidade para se livrar do cigarro e minimizar as complicações de uma doença vascular inflamatória. No total, ele completou seis maratonas, todas no Rio de Janeiro, entre 1984 e 1989.

Fabianna ainda era pequena na época e ainda guarda lembranças da rotina do pai, que acordava às 5h da manhã para treinar. Mesmo com o exemplo em casa, isso não foi suficiente para que fosse picada pelo “bichinho da corrida”. “Ele me incentivou levando para assisti-lo em provas, e até me inscreveu em uma corrida para crianças. Mas meu corpo ‘cansava’ só de pensar”, lembra Fabianna, que chegou a seguir seu pai de bike numa maratona carregando um isopor com água-de-coco e sachê de mel.

Um dia, voltando de um longo de 28 km, Ronaldo sofreu um “apagão”. O cardiologista constatou hipertensão e recomendou repouso. Ainda assim, resolveu fazer sua despedida das corridas fazendo 18 km na Maratona do Rio. Após isso, um exame mais detalhado detectou hipertrofia ventricular. A recomendação: parar de correr e fazer apenas caminhadas, mantendo o ritmo mais confortável.

Foi apenas depois que o pai parou de correr que Fabianna começou a se interessar pela corrida, após o nascimento da sua filha, Ana Carolina, em 2004. “Comecei a fazer aula de spinning, pois ouvia comentários que ‘secava’, e era tudo o que eu queira na época”, lembra ela, que, algumas semanas depois foi convidada para fazer uma aula experimental de running e sua relação com a corrida trouxe as lembranças da infância e mudou completamente.

Depois disso, Fabianna se mudou para São Paulo, onde mora há 15 anos, e passou a fazer parte de uma assessoria esportiva. Em 2010, estreou em maratonas, fazendo sua primeira Major em Chicago. Nesse momento, a corrida já era parte inerente da sua vida e o caminho para completar as Majors era só uma questão de tempo.

Hoje, aos 47 anos e mãe de 3 filhos, Fabianna relembra com emoção sua trajetória na corrida, sua relação marcante com o pai, que voltou a correr depois de um tempo, e o que pretende para o futuro. Confira entrevista completa.


MAJORS BRASIL: Qual seu passado esportivo?

Pratiquei balé clássico, na Dalal Achcar, dos 4 aos 15 anos, onde também fiz 5 anos de sapateado. Nadei no Clube de Regatas do Flamengo, apesar de torcer pelo Fluminense (rsrsrs), dos 6 aos 11 anos. Dos 16 aos 30 anos, me limitei a frequentar algumas academias, sem compromisso.


MAJORS BRASIL: Como começou a correr e de que forma o passado de corredor do seu pai a influenciou na escolha?

A corrida entrou novamente na minha vida após o nascimento da minha filha, Ana Carolina, em 2004. Digo novamente, pois de certa forma cresci vendo meu pai saindo cedo de casa para treinar e o acompanhei em algumas provas. Quando fui liberada para fazer alguma atividade física, comecei a fazer aula de spinning, pois ouvia comentários que “secava”, e era tudo o que eu queira na época. Após algumas semanas de aula, um dos professores da academia me convidou para fazer uma aula experimental de running. As aulas eram na esteira, durante a semana, e na orla do Rio aos sábados.

O primeiro treino na orla, me fez relembrar da rotina dos treinos do meu pai, das provas que o acompanhei, e da felicidade e prazer que ele demonstrava a cada prova concluída, a cada obstáculo superado e a cada meta alcançada. Acho que foi nesse momento que meu corpo e minha cabeça falaram que queriam sentir o mesmo que meus olhos viram, e que ficaram guardados na minha memória.


MAJORS BRASIL: Apesar de ter a corrida na família, você começou a correr só aos 31 anos. O que foi impeditivo para não abraçar a modalidade antes?

Meu pai fez a parte dele. Me incentivou levando para assisti-lo em provas, e até me inscreveu em uma corrida para crianças. Mas meu corpo “cansava” só de pensar em correr. Lembro que cheguei em penúltimo lugar na única prova que corri, e sai com a certeza de que aquilo não era para mim.

A corrida não estava no meu sangue. Meu pai começou a correr para lutar contra uma doença que quase o derrubou. Nem ele nem eu nascemos com o dom de correr, mas descobrimos na corrida a força e a determinação que nos impulsiona para enfrentar os desafios da vida.

MAJORS BRASIL: Entre 1984 e 1989, seu pai correu 6 maratonas. Era uma época em que a corrida bombava no Rio. Que lembranças você tem dessa época?

Foi uma época bem diferente. Não tínhamos tanto acesso às informações. Além disso, não tinha maturidade suficiente para perceber a dimensão de correr uma maratona. Tenho duas lembranças muito fortes na cabeça. A primeira delas é a agonia que eu e minha mãe sentimos na primeira maratona que meu pai correu. Já estavam desmontando a estrutura da chegada quando finalmente vimos ele chegando. E a segunda era o apoio de dei em algumas provas, carregando água de coco, e sachê de mel, num isopor fixado na garupa da minha bicicleta.


MAJORS BRASIL: Como foram as primeiras provas e como resolveu fazer a primeira maratona? Entrar numa assessoria esportiva fez a diferença na sua vida de corredora?

Não me dedicava tanto no começo, mas aos poucos sentia que tinha fôlego para correr um pouco mais. A dedicação foi aumentando naturalmente. A vontade de correr uma maratona veio quando percebi que no lugar do “sofrimento” havia o prazer. Entrar numa assessoria esportiva fez total diferença para mim. Me deu mais segurança. Correr não é simplesmente colocar um tênis no pé e sair por aí. Existem protocolos diferentes para cada tipo de pessoa. Somos seres únicos. Nossos organismos reagem de uma forma diferente. Por isso acho importante o acompanhamento de profissionais capacitados para atender os objetivos de cada um. Além disso, correr na companhia de pessoas com a mesma energia faz uma bem danado! Sem contar as amizades que você quer carregar por toda a vida.

Hoje, aos 47 anos, tenho a certeza que fazer/agir tem mais influência que falar/aconselhar. Tenho como exemplo o meu pai, que tentou me convencer a correr quando criança. Não teria efeito algum se ele tivesse só me aconselhado. Correndo, ele conseguiu me “provar” que a corrida tinha lá seus benefícios, e motivos para tal dedicação. O mesmo percebo com meus filhos. Ainda não despertaram para a corrida, e talvez nem despertem, mas já vejo minha influencia na tentativa de se alimentar melhor.


MAJORS BRASIL: Sua primeira maratona foi Chicago. Como foi a experiência de estrear na distância? Foi amor à primeira vista?

Chicago foi a primeira. Foi indescritível. Chorei muito quando completei. Não tinha noção do que era correr 42,195 km. Os treinos de 30 km eram muito mais fáceis. Durante o percurso todo pensava nos meus pais, nos meus filhos, nos momentos difíceis da vida. Passados 35 km me dei conta da força que tinha. Quando falo de força, não é da física, até porque comecei a sentir uma dor muito forte na lombar já no km 26 (faltou fortalecimento), e sim da coragem de enfrentar as dores e cansaço que tomavam conta do meu corpo. Acabei a prova com uma certeza: precisava fortalecer mais o meu corpo.

Não acho que ter completado a primeira maratona foi amor à primeira vista. Meu “encanto” foi ter percebido que não basta ter força física, é preciso ter “cabeça”. É o resultado da superação, independentemente da sua performance. É o reconhecimento de ter feito o melhor que você poderia naquele dia.


MAJORS BRASIL: Quando começou de fato a seguir o caminho para completar as seis Majors?

Até 2014, não estava muito por dentro das Six Majors. Com 3 filhos, e trabalhando fora, não “sobrava” muito tempo para pensar em algo diferente. Após completar minha 1ª maratona, percebi que não era impossível conciliar com treinos e vida social. Treinar para alcançar qualquer objetivo não é fácil. Precisamos abrir mão de algumas coisas, mas acabamos nos fortalecendo, melhorando as relações e o bem estar.

Foi em 2015 que comecei a escutar o tal qualifying para Boston. E sem querer, em Buenos Aires, consegui meu melhor tempo de maratona (3:37:59), e de quebra a inscrição para a Maratona de Boston em 2017 (7 minutos abaixo da linha de corte). Uma prova bem especial, pois meu pai estava lá me assistindo. Acho que, até hoje, ele não imagina a força que me deu estando lá para me assistir numa maratona pela primeira vez. Uma sensação única. Ter meu pai presente me fez pensar na superação, e força de vontade, que ele teve para lutar contra o vício do fumo, e encontrar na corrida o gatilho para viver. Foi como um aditivo no combustível. Corri sem sentir qualquer tipo de incomodo, sem sofrer, e com uma alegria que tomou conta do meu corpo. O registro da minha chegada diz tudo.

Após concluir Boston, que teoricamente seria a mais difícil em função do qualifying, como não sonhar com as Six Majors? O problema era conseguir fazer inscrição para as 3 que restavam, que já não era tão simples quanto foi em Chicago. Mas a dificuldade me deu mais vontade de concluir o circuito. Acordar cedo para treinar, dormir pouco para dar conta dos filhos, de casa e do trabalho já não eram um problema. Posso dizer que fui contaminada pela sensação prazeirosa que a corrida me dá.


MAJORS BRASIL: O que foi crucial para que seu pai procurasse novamente um médico e voltasse a correr depois de 20 anos?

Imagina um pai passar alguns anos tentando convencer um filho a seguir um caminho com ele. De repente esse pai é forçado a parar, e justo quando o filho resolve começar. Os anos foram passando, o filho progredindo e o pai relembrando tudo que conquistou. As lembranças começaram a incomodar, no bom sentido. Foi aí que o pai, mais uma vez, supera as opiniões médicas e volta para o caminho que o salvou na primeira vez. Começamos planejando uma corrida de 5 km, logo em seguida completamos 10 km juntos. E, quem diria, corremos a Meia maratona de Buenos Aires em 2017, juntinhos. Em 2018, fizemos a São Silvestre, prova que trouxe recordações da minha infância. Todo ano, assistíamos a prova pela televisão, que acontecia quase na virada do ano. Outro momento mágico.

Até hoje, os médicos não sabem como ele continua correndo. Ele completou 78 anos em outubro e segue correndo.


MAJORS BRASIL:  Falando sobre as Majors: por que escolheu esta sequência após Chicago: Nova York em 2014, Boston em 2017, Londres em 2018, Tóquio e Berlim em 2019? E qual foi sua motivação?

Meio século de vida é um marco. Aproveitei a aproximação dos 50 anos e coloquei essa meta. As peças do quebra-cabeça foram se encaixando. As oportunidades foram surgindo naturalmente, e a meu favor. Em 2014, com a inscrição feita para a Maratona de Paris, fui sorteada para correr Nova York no mesmo ano. No ano seguinte, a surpresa com o índice para Boston. Londres e Tóquio planejei com a minha amiga, e super companheira Giselle Higuera. E finalmente Berlim! Fui sorteada após tentar por 3 anos consecutivos, onde peguei a famosa mandala, em 2019! Foi uma prova diferente de todas as outras. Meu único objetivo era curtir e concluir a prova. Não estava no meu melhor condicionamento físico, e minha cabeça não estava voltada para performance. Relaxei e curti. Fiz a prova como um passeio turístico, observando as ruas, as construções, locais marcados por guerras. Talvez a energia do local, por ter um passado pesado, não tenha ajudado.

De qualquer forma, concluir trouxe a sensação de objetivo alcançado, de sonho idealizado e realizado! E de quebra me deu mais vontade de seguir nesse caminho de dedicação, força de vontade, superação e determinação.


MAJORS BRASIL:  Se tivesse que escolher uma Major para repetir, qual seria?

Cada prova é uma prova. Cada qual com sua particularidade, com propósitos diferentes. Meu momento de vida, certamente influenciou minha percepção em relação a cada uma. Mas Tóquio foi uma prova que me surpreendeu em todos os sentidos. Renderia umas boas páginas. Minha Major favorita, que faço questão de fazer novamente.

O esforço para nos entender, e ajudar, é ímpar. Bem organizada, exceto na largada, achei um pouco tumultuada. O percurso é plano até o km 35, e tem muitos “cotovelos”, o que pode desestimular, mas não me afetou. Corri com a Gi, que iria completar o circuito das Six Majors. Tive a ideia de “printar” nossos nomes em japonês. E não é que deu certo! Fiquei fascinada ao escutar vários japoneses gritando nossos nomes!!!! Simplesmente fantástico, de arrepiar. A sensação térmica de 0 grau foi esquecida pois estava fascinada pela organização e animação, ao longo de todo o percurso.


MAJORS BRASIL:  Depois das Six Majors, como ficaram seus objetivos de corrida?

Hoje, penso em fazer outras maratonas, que ainda não fiz, conhecer lugares que nunca fui (e que nem penso em ir, assim como foi Tóquio, que só decidi ir porque fazia parte do circuito das Majors). Este ano estava inscrita na Maratona de Porto Alegre (ainda não fiz nenhuma maratona no Brasil), e no El Cruce, ambas provas transferidas para 2021. Meu objetivo hoje é chegar na idade do meu pai (78 anos) correndo!


Fernanda Paradizo
Repórter e Fotógrafa Oficial

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As corridas de maratona trazem muito dinheiro para cidades da América. Alguns eventos podem não sobreviver à pandemia.

Pippa Stevens

Da CNBCl

Traduzido pelo site: Majors Brasil

Dezenas de milhares de corredores reunidos na área de largada, postados ombro a ombro. Energia nervosa e emoção enchendo o ar. E então o “estalo” da arma, sinalizando que a corrida começou, e onda após onda de corredores atravessando a linha de largada.

Este é o cenário no início das maiores maratonas do mundo, que em alguns casos têm mais de 40.000 participantes. Essas corridas são eventos caros que atraem corredores de todo o mundo junto com suas famílias e fãs, enquanto geram centenas de milhões de dólares para suas cidades-sede. Mas diante do coronavírus, o destino das corridas de rua – como muitos outros esportes – permanece incerto.

À medida que a corrida cresceu em popularidade, clubes locais surgiram em todo o país e agora existem cerca de 35.000 corridas por ano apenas nos EUA, mostram os dados do grupo comercial do setor Running USA. Mais de 44 milhões de pessoas nos EUA se identificam como corredores, e 17,6 milhões de pessoas cruzaram a linha de chegada nas corridas dos EUA em 2019.

Com todas as corridas canceladas por enquanto, bilhões de dólares estão em jogo. As maiores maratonas – de Boston, Chicago, Londres e Tóquio – injetam centenas de milhões de dólares nas economias locais. A análise mais recente da Maratona TCS da cidade de Nova York, por exemplo, descobriu que o impacto econômico da corrida superou US$ 400 milhões.

Essas maratonas são as maiores do mundo e atraem corredores internacionais, mas a maioria dos organizadores de corridas nos EUA são pequenas empresas que dependem de taxas de inscrição para até 95% de sua receita. E sem prazo definido para quando as corridas de rua serão novamente permitidas, milhares de empregos estão em jogo. Os efeitos serão compostos em todo o ecossistema da corrida – cronometristas, fabricantes de camisetas, gravadores de medalhas e, é claro, hotéis e restaurantes que os atletas e seus fãs apadrinham.

Com os corredores de fora, organizações como Ironman e New York Road Runners estão oferecendo corridas virtuais à medida que o setor lida sobre como os eventos poderiam se tornar à medida que a pandemia continua. Alguns esperam que medidas de precaução, como menos participantes e horários de início escalonados, tornem possíveis as corridas, especialmente as mais curtas de 5K, enquanto outros dizem que corridas em grande escala são improváveis até que haja uma vacina.

“Não conheço o impacto geral … mas é bastante devastador para o nosso esporte”, disse Bart Yasso, ex-diretor de corrida da Runner’s World, e uma das poucas pessoas a correr uma maratona nos sete continentes. “Muitas dessas empresas de eventos vão realmente se machucar com isso, e algumas dessas corridas menores simplesmente não vão sobreviver”.

Corridas do futuro

Olhando para o futuro, não é apenas o grande tamanho dessas corridas, é claro, que representa um risco à saúde, mas a própria atividade física. Entre outras coisas, respirar pesado e rápido pela boca significa que gotículas transmissoras de vírus podem viajar além de apenas um metro e oitenta, de acordo com a Dra. Cordelia Carter, cirurgiã ortopédica e diretora do Centro de Saúde Esportiva da Mulher do NYU Langone.

Depende muito, é claro, da trajetória do vírus nos próximos meses. Enquanto as cidades têm a palavra final sobre se os eventos podem ou não ocorrer, as empresas de corrida já estão mapeando como será o futuro.

O CEO do Ironman Group, Andrew Messick, disse que a empresa está se concentrando em cinco grandes elementos:

  • Redução de densidade, como menos participantes da corrida
  • Minimizar pontos de contato com atletas durante toda a corrida
  • Educação e treinamento para garantir que as pessoas entendam as melhores práticas
  • Promover a autossuficiência, como ter atletas carregando sua própria nutrição
  • Aumento da triagem pré-corrida

“O que continuaremos a fazer é trabalhar em estreita colaboração com as nossas comunidades … quando elas estiverem prontas para voltarmos, nosso objetivo é poder oferecer um evento que se encaixe nos parâmetros que elas decidirem ser apropriado para suas comunidades”, disse Messick. O Ironman Group é o maior organizador de eventos esportivos de massa do mundo, com mais de 235 corridas – incluindo a popular série Rock ‘n’ Roll – em 55 países.

O Dr. Brett Toresdahl, principal médico de medicina esportiva do Hospital de Cirurgia Especial em Nova York, disse que outras precauções podem incluir tomar a temperatura dos participantes ao entrar nas áreas de largada – onde os corredores estão agrupados na linha de largada – e limitar o tamanho das áreas de centenas ou milhares de pessoas a apenas dezenas. Toresdahl, médico da equipe do US Biathlon e Rugby United New York, acrescentou que a natureza do vírus o torna especialmente desafiador devido ao número de casos assintomáticos.

Impacto econômico

As corridas de rua se transformaram em uma indústria multibilionária e as maiores maratonas do mundo têm um impacto econômico significativo nas cidades em todo o mundo.

A Maratona de Chicago – Bank of America de 2018 faturou US$ 378 milhões para a cidade, enquanto a análise mais recente da maratona de Nova York em 2014 mostrou que ela gerou US$ 415 milhões para Nova York. A Maratona de Boston de 2019 injetou acima de US$ 200 milhões na economia local, e o estudo mais recente da Maratona de Londres – Virgin Money de 2015 mostrou um benefício econômico de £ 128 milhões, ou cerca de US$ 155,8 milhões.

Esses eventos altamente populares continuarão a atrair participantes nos próximos anos, mas corridas menores podem não se sair tão bem. O CEO da Running USA, Rich Harshbarger, observou que a maioria dos organizadores de corridas no país são pequenas empresas que empregam em média oito pessoas, com entre 40% e 95% da receita anual proveniente das taxas de corridas. Além de funcionários em período integral, as empresas normalmente fazem parceria com contratados para cada evento.

“Todo mundo que atua no setor de corridas depende de dezenas, senão centenas, de pequenas empresas que são em grande parte operadas pelo proprietário”, disse Messick, da Ironman.

À medida que os cancelamentos de corrida aumentam, Harshbarger diz que o setor está “sofrendo tremendamente” e que, como não possui uma organização ou associação de atletas, às vezes é esquecido. Por esse motivo, mais de 500 operadores de eventos de resistência em todo o país – incluindo Ironman e Running USA – se uniram em abril para lançar o Endurance Sports Coalition (Liga de Esportes de Resistência) , que busca financiamento de longo prazo para operadores de eventos. Praticamente todas as empresas estão sentindo os impactos do vírus, mas, ao contrário dos restaurantes, por exemplo, que podem se transformar em opções de retirada e entrega, os provedores de corrida têm apenas um fluxo de receita.

“Sem a ajuda específica do governo federal, o esporte de resistência pode não sobreviver à pandemia de COVID-19”, diz o site da organização. “Muitos eventos com longas e orgulhosas histórias não têm recursos para resistir a esta tempestade e não serão capazes de se reerguer no próximo ano.”

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