Maratona de Cali

MARATONA DE CALI
By Fernanda Paradizo – Revista contra relógio

A primeira edição da Maratona de Cali, na Colômbia, foi realizada na manhã deste domingo, 4 de maio, e teve domínio africano e resultados históricos. Os campeões da estreia da prova foram os quenianos Evans Mayaka, com 2:11:04, e Emmah Ndiwa, com 2:29:26 — tempos que já entram para a história como os mais rápidos registrados em solo colombiano, tanto no masculino quanto no feminino.

Além deles, a colombiana Alexandra Aldana também fez história ao terminar em 5º lugar entre as mulheres, com 2:40:41, marca que passa a ser o melhor tempo de uma atleta local em maratonas disputadas no país.

A prova reuniu mais de 11 mil corredores de 39 países e já nasce como a única maratona da América do Sul com selo Elite da World Athletics.

A largada da maratona aconteceu às 5h da manhã e a cidade viveu uma verdadeira festa, com o público animando os atletas do começo ao fim.

O destaque do Brasil, além da presença de Marilson Gomes dos Santos, um dos convidados da organização, que correu os 15 km, foi a segunda colocação do paratleta Carlos Pierre na corrida de cadeira de rodas. Essa foi a quarta maratona que Pierre participou depois que migrou das pistas para a maratona.

Fica aí uma opção de prova na América do Sul para os brasileiros, um evento que tem todo o apoio do governo local e já começa com o pé direito, mostrando que veio para ficar.

Além da maratona, o evento teve também uma prova de 15 km e outra de 4,2 km.

Resultados – Top 5

42 km
Masculino

1. Evans Mayaka 🇰🇪 – 2:11:04
2. Bonface Kiplimo 🇰🇪 – 2:11:27
3. Daniel Paulus 🇳🇦 – 2:15:19
4. Mogos Solomon 🇪🇷 – 2:17:25
5. Jorge Castelblanco 🇵🇦 – 2:17:47

Feminino

1. Emmah Ndiwa 🇰🇪 – 2:29:26
2. Nigist Muluneh 🇪🇹 –2:32:24
3. Adanech Mekonnen 🇪🇹– 2:36:18
4. Helalia Johannes 🇳🇦 – 2:37:29
5. Alexandra Aldana 🇨🇴 – 2:40:41 – Recorde colombiano em solo nacional

     

#MaratonadeCali
📷 @fparadizo

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Atletas mais rápidos com 6 estrelas

Apresentamos os atletas mais rápidos com 6 estrelas.

Com o final da temporada 2024 e com a inclusão de Sydney como major, já no ano de 2025, apresentamos os atletas mais rápidos com 6 estrelas.

Levantamos os 50 primeiros por gênero.

Lembrando que a primeira colocada feminina Aline Rocha é para-atleta e tem tempos muito mais rápidos que os demais.

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Maratona de Toquio 2024

Maratona de Toquio 2024

3 de março foi um dia especial para os maratonistas inscritos na edição da Maratona de Toquio 2024, mais de 35 mil pessoas concluíram a prova e 347 brasileiros estiveram representando nosso pais.

As prévias dão conta que batemos o recorde de maratonistas recebendo a mandala major e em breve teremos esses atletas já na nossa galeria major.

Duas situações marcam essa edição como especial para o Brasil.

Aline Rocha – paratleta brasileira, recebe sua mandala major, se tornando a primeira atleta cadeirante do Brasil a receber a BIG MEDAL da World Majors Marathon.

Outra situação espetacular foi protagonizada pelo gaúcho Valdomiro Siegieniuk que se torna o mais experiente brasileiro a receber a mandala, com 84 anos e 5 anos depois de vencer um câncer.

O resultado da elite está abaixo com os tempos oficiais.

Tokyo Marathon 2024: resultado masculino

Benson Kipruto (KEN) 2:04:02
Timothy Kiplagat (KEN) 2:02:55
Vincent Kipkemoi Ngetich (KEN) 2:04:18
Hailemaryam Kiros (ETH) 2:05:43
Tsegaye Getachew (ETH) 2:06:25
Bethwel Kibet (KEN) 2:06:26
Haimro Alame (ISR) 2:06:27
Simon Kariuki (KEN) 2:06:29
Yusuke Nishiyama (JPN) 2:06:31
Eliud Kipchoge (KEN) 2:06:50

Tokyo Marathon 2024: resultado feminino

Sutume Asefa Kebede (ETH) 2:15:37
Rosemary Wanjiru (KEN) 2:16:14
Amane BEriso Shankule (ETH) 2:16:58
Sifan Hassan (NED) 2:18:05
Betsy Saina (USA) 2:19:37
Niiya Hitomi (JPN) 2:21:50
Meseret Abebayahau (ETH) 2:23:08
Khishigsakihan Galbadrakh (MGL) 2:26:32
Tigist Abayechew (ETH) 2:28:53
Ayumi Morita (JPN) 2:31:38

Texto: VERA ABRUZZINI
Fotos: James Moxley

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WANDA AGE GROUP em Chicago 2023

WANDA AGE GROUP em Chicago 2023

Depois de dois anos seguidos disputado em Londres, em 2021 e 2022, a Maratona de Chicago, que acontece no dia 8 de outubro, será pela primeira vez palco do Abbott World Marathon Wanda Age Group Championships, campeonato mundial master, competição para corredores com 40 anos ou mais. Serão cerca de 2700 participantes de todo o mundo, que se classificaram nas principais maratonas internacionais do calendário.

O Brasil estará representado em Chicago por muitos corredores, incluindo 22 Majors. Conversamos aqui com quatro deles, para saber sobre suas expectativas para essa competição, que não é uma maratona como outra qualquer, mas sim um evento moldado para reunir num só lugar os melhores corredores do mundo nas suas faixas etárias.

O gaúcho Jacques Jochims Fernandes, de 51 anos, vai para sua segunda participação no Mundial da Wanda. Mas acredita que poderia ter sido a terceira se não fosse a pandemia. “As coisas ficaram bem difíceis de estar na primeira edição, em 2021, principalmente para efetuar os pontos necessários, pois muitas provas foram canceladas, e por aqui na Europa, onde vivo, o controle de restrição de acesso às ruas foi bem duro, o que impossibilitava de treinar.”

Chicago, além de não ser novidade para Jacques, que vai para a quinta participação na Windy City, tem um significado importante na sua história de corredor, porque foi lá, em 2005, onde estreou nos 42 km. “Foi onde tudo começou. Como um principiante nato, sofri após o km 30 onde ainda naquela época o tal do ‘muro’ se apresentava. Hoje as coisas evoluíram e dizem que ele está mais para a frente, no km 35. Com a satisfação daquele feito, que só quem já fez a maratona sabe do que estou falando, e até hoje não sei explicar direito, mesmo sofrendo, passada uma semana, me inscrevi para o ano seguinte, de 2006”, lembra ele, que depois repetiu a dose em 2015 e 2017.

Apesar de tantas participações, a deste ano tem um sabor especial, por ser a final Age Group Championships. “Nesse caminho desde 2005 já foram 50 maratonas, e Chicago teoricamente não estava nos planos para este ano, pois já estava programado um meio IronMan (70.3) para realizar em Cascais duas semanas após Chicago, mas como fui contemplado com a classificação para o Mundial, não poderia perder.”

A vaga para a prova foi obtida ainda no sistema antigo, onde durante o período de um ano, o corredor pontuava com as suas duas melhores maratonas para um somatório de pontos na sua faixa etária. “Hoje, o sistema não é mais assim, sendo agora através de um determinado tempo de classificação. Uma vez feito o tempo, já está classificado”, explica Jacques, que tem boas recordações da edição do ano passado, disputada em Londres. “Foi uma das experiências mais bacanas que vivi na corrida, mais precisamente na largada. Temos um reconhecimento por estarmos na final do mundial e assim temos um setor separado de espera na largada. Banheiros e guarda-volumes exclusivos. A maior surpresa foi na hora da largada, quando fomos levados para junto da largada da elite. Logo atrás. Estávamos ali na hora que chamam um por um os atletas e eles entram no curral e começam a dar aqueles trotes antes do tiro de largada.”

O corredor lembra que foram apenas 8 segundos de diferença do tempo bruto para o líquido. “Fomos até chamados a atenção para não fazermos graça e tentar acelerar para correr na frente dos Top elite.”

No mais, a prova é igual para todos os corredores, a não ser a medalha extra recebida ao final e o bib number específico do campeonato, além de uma mochila.

Sobre o que pretende fazer em termos de performance em Chicago, Jacques diz que fará o que for possível para o dia. “Adoro performance, mas já aprendi que a maratona é uma distância a ser respeitada.”

Outro brasileiro que representará o Brasil em Chicago é brasiliense Fabrícius Clemens Madruga, 47 anos. Será sua 21ª maratona no currículo e a 11ª Major. Seu melhor tempo é de 2:54:20, obtido em Berlim 2019, prova que, junto com a Londres 2019 (2:56:46), ajudou a se qualificar por pontos para o Wanda Age Group.

“Essa classificação aconteceu para o 1º Wanda Age Group, que ocorreria em Londres 2020 e foi adiado para 2021, mas por conta da pandemia e restrições de entrada em alguns países eles deram a opção dos atletas jogarem a inscrição para o 3º ano, tendo em vista que para o 2º já estava fechado”, explica Fabrícius, que acredita que terá uma experiência diferente de qualquer outra maratona.

“O fato de ter um kit diferente, uma medalha especial, uma tenda e acesso exclusivo na largada e na chegada, tudo isso é muito bacana, mas a sensação de ter conquistado essa vaga tão restrita é o que faz ser mais especial. É mais ou menos quando se conquista o índice para a maratona de Boston.”

Sem preparação específica para a prova, ele demorou para decidir se iria ou não. “Decidi apenas um mês e meio antes da prova e apenas por ser o evento da Wanda Age Group. Por conta disso, não tenho nenhum grande objetivo, apenas terminar mesmo.”

Radicado em Key

Key Biscayne, na Flórida, há 17 anos, o paulista Marcos Tilkian, de 49 anos, também é experiente em maratona e vai para sua 23a maratona e 13a Major. Ele recebeu a mandala das seis Majors em Tóquio 2023 e junto com sonhada medalha veio também o convite para participar do Mundial.

“Foi uma surpresa total. Não estou nem perto do tempo para qualificar”, conta Marcos, que tem 3:11:22 como seu melhor tempo de maratona, feito em Berlim 2022.

“Quando eu corri Toquio 23, eu já estava registrado para Chicago.

É um evento diferente de uma maratona normal, porque é um mundial. Se seguir os outros eventos, tem algumas coisas diferentes, como número na frente e nas costas, medalha específica, além da medalha de Chicago, festa no final e outras coisas”, destaca Marcos, que acredita que talvez tenha recebido o convite por já estar inscrito.

“Imagino que este ano, o nível dos corredores será mais alto que nos anos anteriores. Minha preparação foi curta e com um volume de corrida mais baixo que as outras. Mas me sinto bem e sem nenhum desconforto ou lesão, o que é raro!

A ideia é garantir Boston 2025”, já que Boston 2024 já está garantida.”

Também de Brasília, a corredora Íris Maria de Oliveira Formiga, de 44 anos, tem 33 maratonas na bagagem e terminou as Six Majors no ano passado em Londres, onde conseguiu seu melhor tempo nos 42 km, com 3:28. A vaga para o Wanda Age Group veio com os resultados de Londres e Big Sur, na Califórnia, e com surpresa.

“Eu nem sabia o que era o Wanda. Mais uma vez fui salva pelos conhecimentos da Verinha (rs), que sabe absolutamente tudo sobre o mundo das maratonas”, lembra a corredora, que também já tinha sua inscrição garantida para Chicago, por índice.

“Imagino que deva ser muito especial. Eu gostaria que fosse um evento mais de celebração do que competitivo. Quero poder curtir sem me cobrar desempenho. Até porque acabei de correr Berlim e ainda estou cansada”, alerta Íris, que iniciou um planejamento direcionado para Berlim e Chicago, duas provas com intervalo muito curto entre elas. “Algumas lesões e imprevistos familiares dificultaram muito as últimas semanas de treino. Meu objetivo agora passou a ser completar a prova e curtir cada pedaço do percurso e a festa!”

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As seis provas – Tóquio, Boston, Londres, Berlim, Chicago e Nova York – possuem programas com diversas entidades

Quando estamos envolvidos nas maratonas Majors, sempre temos a opção de correr pela caridade.

As seis provas – Tóquio, Boston, Londres, Berlim, Chicago e Nova York – possuem programas com diversas entidades.

Muitos brasileiros acabam entrando em contato com esses programas, porque procuram uma vaga para correr uma das seis e se deparam com essa situação.

Infelizmente, nosso país não tem a cultura de “charity runner” e o que temos por aqui são corridas solidárias que arrecadam fundos para diversas entidades. Nesse caso, todos os corredores “correm” pela mesma causa.

Correr pela caridade numa maratona Major significa pagar bem mais por uma inscrição e com isso direcionar todos os seus esforços para juntar dinheiro para uma causa. No entanto, além da camiseta oficial da prova, essas entidades te oferecem uma camiseta extra, brindes e muitas vezes café da manhã pré-prova, lanche pós-prova, mentores durante seu treino e o mais importante: envolvimento com a causa escolhida!

Muitas dessas provas dão aos seus parceiros de caridade a liberdade de aceitarem ou não esses corredores, e essas mesmas entidades também possuem suas próprias plataformas para controlar a arrecadação de cada um desses corredores.

Um site bem interessante para procurar provas que angariam fundos para causas que fazem sentido para você é o https://runforcharity.com/

No caso das maratonas Majors, às vezes, algumas pequenas regras se alteram, principalmente no programa de Charity Runner da Maratona de Tóquio. Mas, de uma forma geral, os programas das outras provas estão bem estabelecidos e rodando de forma correta há anos.

Fique ligado nesse perfil. Sempre que possível, vamos auxiliar os corredores a se inscrever por caridade.

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Estrangeiros inscritos na Maratona de Tóquio 2023 podem alterar a inscrição para 2024

A próxima edição da Maratona de Tóquio está marcada para o dia 5 de março. A prova volta a ter participação estrangeira após 4 anos. 

Apesar da confirmação, existe ainda uma grande preocupação com o avanço do COVID-19 no Japão e os organizadores informam que estão tomando as medidas necessárias e todos os cuidados para que a prova ocorre sem problemas.  

Para entrar no Japão

O governo japonês exige que todos forneçam um certificado de vacinação COVID-19 válido, com 3 doses da vacina ou um certificado de resultado negativo do teste COVID-19 até 72 horas antes da viagem. 

Alteração da inscrição para 2024
Como há dificuldade de saber como estará a situação da pandemia na época do evento, os organizadores estão oferecendo aos corredores internacionais a opção de adiar a inscrição para a Maratona de Tóquio 2024 (com data provisória para 03/03/2024).

 

Você deverá entrar no seu perfil do site oficial (https://www.marathon.tokyo/en/), em MY ENTRY, entre 8 de dezembro, às 10h (JST) e 12 de dezembro, às 17h (JST), para fazer a opção de alteração (fuso horário Brasília: entre 7 de dezembro, às 22h, e 11 de dezembro, às 5h)

Você receberá um e-mail de confirmação da alteração, que deverá ser guardado, uma vez que agora esta informação não estará disponível no perfil. Aqueles que optarem pela alteração serão notificados por e-mail quando a informação estiver disponível, por volta de junho de 2023. 

Uma vez feita a alteração, você não poderá voltar atrás.


Todas as suas informações cadastradas para o evento de 2023 serão transferidas automaticamente para 2024, não precisando portanto fazer um novo cadastro. 

Corredores de caridade não precisarão fazer doações adicionais.

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A Abbott World Marathon Majors lança programa para ajudar corredores a completar a jornada das Six Majors

Com o objetivo de ajudar os corredores a finalizar a jornada em busca da Six Medal, a Abbott World Marathon Majors lançou esta semana um programa  que vai disponibilizar 2 mil vagas para os membros AbbottWMM.com conseguirem avançar na sua missão de de ingressar no Six Star Finisher Hall of Fame, hoje composto por 8.067 finalistas.

Estas inscricões, todas para 2023, serão disponibilizadas em forma de sorteio e poderão participar do processo todos os corredores que tenham seus perfis no site oficial e que estejam no caminho para completar as Seis Majors.

O processo de seleção inicia com as três Majors realizadas no primeiro semestre de 2023, no dia 9 de novembro.

Para as Maratonas de Tóquio e Boston, serão disponibilizadas vagas somente para aqueles que já têm 5 estrelas. Já para as Maratonas de Londres, Berlim, Chicago e Nova York, corredores com 3, 4 ou 5 estrelas serão elegíveis para o sorteio. Confira abaixo tabela de vagas e os corredores elegíveis para cada uma das seis provas

MAJOR Número de Vagas Corredores elégiveis*
Tóquio 100 5 estrelas
Boston 150 5 estrelas
Londres 500 3, 4 e 5 estrelas
Berlim 500 3, 4 e 5 estrelas
Chicago 250 3, 4 e 5 estrelas
Nova York 500 3, 4 e 5 estrelas

* Os corredores devem ter seus perfis atualizados no site www.Abbottwmm.com


CRONOGRAMA PARA OS SORTEIOS DAS MARATONAS DO 1º SEMESTRE DE 2023

MAJOR NOTIFICAÇÃO POR E-MAIL DEADLINE  INSCRIÇÃO SELEÇÃO DE CORREDORES DATA DA CORRIDA
Tóquio 09/11 16/11 17/11 05/03
Boston 21/11 29/11 30/11 17/04
Londres 05/12 12/12 14/12 23/04

IMPORTANTE:
Aqueles que pretendem completar as seis Majors precisam atualizar seus perfis e reivindicar suas estrelas para serem elegíveis para os sorteios.

Os corredores elegíveis receberão um e-mail na data mencionada acima, convidando-os a fazer parte do processo de seleção para a Major em que ele se qualifica.

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Dicas de Berlim BY FERNANDA PARADIZO

Crédito da Foto : ©SCC EVENTS / Sebastian Wells

A Maratona de Berlim está marcada para o dia 25 de setembro e reunimos 3 dicas especiais para quem está se preparando para correr.

1. A Expo de Berlim, e de qualquer outra Major, é sem dúvida um show à parte. A de Berlim acontece no Airport Tempelhof (Platz der Luftbrücke 5), um aeroporto desativado que possui uma área espaçosa e agradável. Aliás é onde acontecerá este ano também o Breakfast Run, no sábado de manhã, que antes largava no Castelo de Charlottenburg e chegava dentro do Estádio Olímpico. Ainda sobre a Expo, apesar de acontecer em três dias, procure retirar seu kit assim que chegar à cidade, de preferência no primeiro ou no máximo no segundo dia de feira. Europeus e alemães vindos de outras cidades costumam chegar no sábado e fica praticamente intransitável a feira, principalmente a loja oficial, da Adidas, que vende produtos com a logomarca da prova. Aliás, a oferta de produtos oficiais é boa, mas não espere preços convidativos.

2. Berlim é uma prova plana, perfeita para recordes, mas tenha cuidado com o início de prova, que pode se apresentar um pouco congestionado principalmente nos primeiros 10 km, mesmo com a largada por baias e ondas. Os postos de abastecimentos são bem fartos. Há 14 ao longo do percurso, com água, isotônico e frutas. Fique atento porque, até o km 15, há mesas dos dois lados, depois apenas no lado direito.

3. Além de rápido, o percurso de Berlim é bonito e passa por vários pontos turísticos da cidade, como a Coluna da Vitória, o Parlamento Alemão, a antiga sede do Senado de Berlim Oriental, a Kaiser-Wilhelm-Gedächtnis-Kirche e outros marcos importantes da Alemanhã. Como se isso não bastasse, os corredores são coroados antes da linha de chegada com passagem pelo Portão de Brandenburgo, o marco mais famoso da Alemanha. Aliás, quando dobrar a esquerda e avistá-lo, segure o sprint porque após passar por baixo do portão ainda haverá alguns metros até a linha de chegada.

Crédito da Foto : ©SCC EVENTS / Sebastian Wells

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Bela Vista de Havana

Bela Vista de Havana
por: Ney Aires

It’s not just extreme human endurance

that captivates me,but also extremes

in geography and climate.

Dean Karnazes (ultramaratonista)

Lembro-me bem. Era manhã de um domingo chuvoso de
abril, há uns três anos, quando resolvi pôr em ordem a
minha pequena biblioteca. De repente, um livro que li em
meus tempos de secundarista caiu-me às mãos como num passe
de mágica: A Ilha, de Fernando Morais.
Primeiro, admirei-o, depois o afaguei. Finalmente, retirei suavemente
um marcador de livros já desbotado pelo tempo e repleto
de anotações. Li com avidez as quase ingênuas anotações do
meu tempo de adolescência. E assim, tomado de nostalgia, iniciei
a releitura deste livro que foi tão importante para mim nos anos
plúmbeos, que caracterizaram a minha juventude.
Desta maneira ocupei todo aquele domingo cinzento, no início
sem muito que fazer, relendo esse livro. Logo depois, naquele
mesmo dia, quis rever o filme Buena Vista Social Club, do diretor
alemão Wim Wenders. Em seguida, vi também o Habana Blues,
de Benito Zambrano. Completei o dia assistindo ao Suite Habana,
de Fernando Pérez, o documentário que narra um dia na vida de
vários cubanos. E foi assim que nasceu o embrião do plano de
correr a Maratona de Havana – a Marabana.
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Para impulsionar a decisão de ir a Cuba, nos meses seguintes,
aprofundei meus conhecimentos sobre a famosa ilha caribenha.
Principalmente sobre a revolução cubana. Também sobre o atual
modus vivendi do povo cubano. Além disso, busquei informações
mais precisas sobre a Marabana.
A Cuba relatada por Fernando Morais nos anos 70 não é mais
a de hoje. Aquele momento era o auge das transformações sociais
proporcionadas por Fidel Castro. A invasão da Baía dos Porcos – o
tour de force de Fidel – ainda permanecia viva na memória dos
cubanos. O bloqueio norte-americano difundia um sentimento
de nacionalismo muito grande em todo o povo. O socialismo era
apoiado pela União Soviética, tanto no aspecto financeiro como no
diplomático. Na realidade, os soviéticos substituíram os americanos,
enviando petróleo e comprando quase toda a produção de açúcar.
Além de apoio militar, a União Soviética ajudava tecnicamente
na construção de escolas, hospitais, na infraestrutura em geral.
Desde a libertação de Cuba do domínio espanhol por José
Marti, na virada do século XIX, os Estados Unidos assumiram a
posição de novos dominadores, ao apoiar os sucessivos ditadores
que defendiam os interesses estadunidenses. Com Fulgêncio Batista,
a Ilha foi dominada pelos gângsteres (inclusive Al Capone),
pela prostituição, pela jogatina. Além disso, grande parte das
terras produtivas de Cuba estava nas mãos de grandes empresas
norte-americanas.
O objetivo precípuo da revolução cubana foi, sem dúvida, a
mudança neste status quo. O triunfo da revolução deveu-se ao
apoio dos campesinos em primeira instância e depois do povo em
geral. Com a queda do Muro de Berlim, o desmantelamento do
comunismo na União Soviética e a separação das repúblicas socialistas,
assim como a ineficiência do modelo socialista no mundo
inteiro, Cuba, consequentemente, entrou em crise profunda
com a crescente retirada do apoio da Rússia.
A Cuba de hoje possui problemas econômicos profundos: racionamento
de alimentos, produção agrícola estagnada, muitos
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problemas de infraestrutura e a crônica falta de energia, embora
a importação de petróleo seja subsidiada pela Venezuela. Entretanto,
lentamente, Cuba retoma o intercâmbio comercial com o
mundo. Com exceção, é claro, dos Estados Unidos.
Com a retirada de Fidel Castro do cenário político – ao menos
formalmente – há uma abertura lenta, incentivada pelo seu
irmão Raúl. Claro, ainda existem vários presos políticos e isso é
inadmissível em qualquer regime que tenha pretensões democráticas.
Também não há direito pleno de ir e vir do cidadão cubano.
Principalmente em viagens ao exterior, é necessária uma autorização
especial do governo. Para isso, já há mudanças previstas por
Raúl Castro.
Com a eleição de Barack Obama, há uma grande esperança
de que as relações com os Estados Unidos tomem um novo rumo,
embora o lobby anticastrista na Flórida tenha um poder avassalador
no congresso americano.
É evidente que o socialismo idealizado pelos revolucionários
de Sierra Maestra não atingiu o seu objetivo pleno. A universalização
do ensino, o sistema de saúde eficiente e gratuito para todos
os cubanos, a melhoria no acesso à moradia, a segurança, o apoio
aos esportes são reconhecidamente um sucesso. Assim, foram admiráveis
e inacreditáveis todos esses êxitos, porque nenhum outro
país teria suportado por muito tempo o embargo econômico e diplomático
imposto pela OEA, capitaneado pelos Estados Unidos.
Os ideais de Che Guevara, Fidel, Camilo Cienfuegos e outros
foram seguidos fielmente pela maioria da população cubana. Ao
mesmo tempo, houve uma resistência do povo cubano às tentativas
dos contrarrevolucionários de restabelecer a ditadura nos
moldes de Batista.
A sustentabilidade da revolução cubana foi movida por ideais.
Che Guevara foi o maior dos idealistas e, ainda hoje, é reconhecidamente
um herói em Cuba e considerado a figura mais importante
na Revolução Cubana. Com sua morte, tornou-se um mito em
todo o mundo. Ernesto Che Guevara parecia flertar com a morte
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desde cedo. Antes mesmo de ser o Che, antes de se formar em medicina,
aventurou-se com o amigo Granado pela América Nuestra
de motocicleta. Nessa viagem, transformou-se definitivamente, ao
ver de perto a miséria do continente dito latino-americano.
Alguns anos depois, já trabalhando como médico no México,
Che conheceu Fidel Castro e o irmão Raúl, exilados, após serem
libertados da prisão em Cuba. O destino foi traçado então. Che
tornou-se grande amigo de Fidel e com ele e oitenta e dois guerrilheiros
partiu no pequeno barco Granma de volta a Cuba para
fazer a revolução.
Asmático, brilhantemente inteligente e culto, disciplinado e
convicto de seus ideais, logo Che tornou-se comandante de um pelotão
de guerrilheiros em Sierra Maestra. E foi deste modo que teve
início a construção de um mito que até hoje perdura, espalhado
mundo afora.
Por que Che abandonou o comando do Ministério da Indústria
de Cuba, o cargo mais importante depois do ocupado por Fidel
e aventurou-se na selva do Congo para transplantar a revolução?
Por que, então, com o fracasso no Congo, foi fazer a revolução
na Bolívia? Um enigma ou simplesmente idiossincrasia de uma
mente inquieta?
Quando Che foi capturado e morto em La Higuera, na selva
boliviana, pelo Exército boliviano e pela CIA, de certa maneira ele
sabia que sua morte faria nascer o mártir da revolução cubana.


Escrevo esta introdução sentado no La Bodeguita del Médio,
entre goles de mojito – uma mescla de rum, limão, açúcar e hortelã
– e daiquiri, o drinque preferido de Ernest Hemingway. Aqui,
dizem, Hemingway escreveu quase todo Por Quem os Sinos Dobram
– considerado por muitos sua melhor obra, se excluirmos
O Velho e o Mar – durante os vinte anos que viveu em Cuba. Este
bar-restaurante, sempre cheio de turistas atraídos pelo fato de aqui
Hemingway ter sido um habitué e ter criado, ele mesmo, alguns
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dos drinques da casa, serve também a cozinha tipicamente cubana,
a gastronomia criolla. Peço, com certa displicência, um picadillo
habanero. Enquanto o garçom me serve, anoto os nomes de
famosos que autografaram a parede à minha frente: Hemingway,
Nat King Cole, Fidel, Pablo Neruda e outros.
Antes de deixar La Bodeguita, acendo um charuto. Não fumo
há anos; há muitos anos mesmo. Mas, vez por outra, por diletantismo,
me arrisco a fumar um “puro” cubano – um Cohiba, o
melhor de todos. E aqui em Cuba, neste propício bar-restaurante,
reservo-me este prazer proibido aos maratonistas profissionais.
Já noite avançada, extremamente cansado, um pouco embriagado
pelo excesso de rum puro e de vários mojitos, com as pernas
trôpegas e trêmulas pelo esforço da maratona da manhã de hoje,
vou caminhando pelas ruelas quase desertas e escuras da Habana
Vieja, em direção ao meu hotel.
Depois de caminhar nessas ruas e ruelas estreitas sem nomes
visíveis, carregando o medo renitente da insegurança brasileira
ao andar em lugares desertos à noite, de repente chego a uma pequena
praça e vejo um bar ainda aberto – El Huracán Cubaño.
Surpresa! O bar totalmente cheio. E surpresa maior ainda quando
chego bem nos fundos à procura de uma mesa. Vejo alguns maratonistas
que conheci durante a concentração e na linha de chegada.
Inicialmente, tinha a intenção de permanecer ali por pouco
tempo. No entanto, depois de longas conversas sobre a maratona
e, principalmente, sobre a “ditadura do proletariado”, sobre a crise
atual do capitalismo, resolvemos, por indicação, avançar na noite
no Habana, um club no Hotel Meliá, para os lados do Vedado,
frequentado quase exclusivamente por turistas e, talvez, o melhor
de Havana.
No dia seguinte, acordo bem cedo. Dia de voltar pra casa, depois
de mais uma maratona. Certamente esta terá um enorme destaque
entre as tantas outras de que já participei. Então, no café da manhã
mesmo, inicio o relato desta prova, que corri com tanto prazer e
admiração por esta cidade que um dia sonhei conhecer.
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A concentração para a largada da maratona La Marabana
ocorre na Rua Brasil, bem ao lado do Capitólio. Resolvo fazer um
leve aquecimento ali. Enquanto me alongo, um grupo de corredores
cubanos passa por mim. Vejo também uma velha de mãos
dadas a uma menina jovenzinha. Ambas parecem felizes, como se
mutuamente se protegessem. E todos cumprimentam um grupo
de basureros (lixeiros), como se fossem amigos do mesmo bairro.
Um grupo de estudantes vindo da província de Pinar del Rio
junta-se àqueles corredores felizes e seguem em direção à largada.
Depois de mais alguns minutos de aquecimento, deixo a Rua
Brasil. Acompanho os outros corredores em direção à largada e me
junto a um pequeno grupo de maratonistas. Vladimir, de meia-
-idade, lembra bem um intelectual. Com muita satisfação, ele me
informa mais alguns detalhes sobre o percurso. Depois, já impactado
dentro da baia da linha de largada, ainda converso com um
alegre grupo de corredores da meia maratona.
Por instantes percebo ali o grau de felicidade do povo cubano,
apesar do constante racionamento, da renúncia (ou abdicação)
ao luxo em prol do bem comum. De certa maneira, vejo naquele
lugar simples a confirmação empírica do Paradoxo de Easterlin
– um estudo do professor de economia da Universidade da Califórnia,
Richard Easterlin – que proclama: “Depois de preencher
as suas necessidades básicas, o aumento constante na renda não
influencia em nada no grau de felicidade dos seres humanos.”
Acrescente-se, claro, em nível abrangente, coletivo.
À espera do tiro de largada, aprecio a Praça do Capitólio –
uma réplica do Capitólio de Washington, afirmam os cubanos,
ainda um pouco mais alto –, que abriga hoje o Departamento de
Ciência e Tecnologia. É um prédio realmente muito bonito!
Faz pouco tempo que o sol nasceu. A temperatura gira em
torno dos dezessete graus. Há uma brisa fria que sopra do Caribe,
perfeitamente suportável. Enquanto o sol se levanta, a praça se enche
vagarosamente. Percebo que há muitos corredores estrangeiros,
a maioria europeus e muitos canadenses. Alguns americanos,
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apesar da proibição de viajarem a Cuba. Também muitos maratonistas
do interior da ilha, assim como de todas as grandes cidades
de Cuba, esses últimos financiados pelo governo cubano. Isto é,
para os cubanos, a Marabana é totalmente grátis, desde a inscrição
até a estadia.
Faltam poucos minutos para as sete horas da manhã. Antes
de me posicionar para a largada, apalpo os bolsos do meu short.
Certifico-me dos oito sachês de géis diferenciados, da cafeína e do
Tylenol, que levo comigo por contingência e agora, com certeza,
do tablete de sal. O sal é a bola da vez.
Muito tem se falado da perda de sódio durante provas muito
longas. A hiponatremia seria o fenômeno que mais atormenta os
corredores de longa distância, notadamente depois do quilômetro
trinta. A hiponatremia, na realidade, ocorre depois de uma
perda exagerada de eletrólitos. Com a perda de sódio, magnésio
e potássio, surgem as dores musculares, cãibras e o aumento
dos batimentos cardíacos. A ingestão excessiva de água durante
a maratona agrava a situação. O rendimento cai drasticamente.
O ideal, diz dr. Lewis G. Maharam, diretor-médico da New York
Road Runners, é que “se tome um copinho de água a cada vinte
minutos de corrida.” É evidente que isso depende da variação da
temperatura. Mas, mesmo assim, é um contrassenso beber água
exageradamente. O ideal, nesses casos de muito calor, é resfriar o
corpo com muita água, se possível gelada, derramando-a na cabeça,
nos pulsos e nas costas.
Antes de ouvir o som da corneta de largada, mecanicamente
procuro no pulso o GPS. Pela primeira vez, em vinte e nove
maratonas, vou correr sem cronômetro. Propositadamente, nem
mesmo o trouxe comigo, pois pretendo correr aqui em Havana o
mais confortavelmente possível. Afinal, esta é a sexta deste ano e
a redução do esforço se faz necessária. Desta vez, quero sentir o
prazer de correr sem marcar o tempo a todo instante.
No primeiro quilômetro, vou passando por edifícios coloniais
da Velha Havana. Alguns bem preservados, outros decadentes.
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No geral, os aprecio com deleite. Enquanto os observo, vou tentando
estabelecer o ritmo sem muito esforço. Os batimentos cardíacos
também já consigo controlar sem o monitor, consequência
natural de muitas rodagens e provas ininterruptas.
Entrando no segundo quilômetro, vejo o Hotel Sevilla e lembro-
me de Graham Greene em Nosso Homem em Havana. Neste
livro, bem ali embaixo da balaustrada, ocorre o assassinato do turista
holandês, na Havana à beira da revolução castrista. E imagino
se realmente houve o crime ou seria apenas uma invenção bem
elaborada de escritor.
Após o segundo quilômetro, passo em frente ao Museu da
Revolução. Um belo edifício dos anos vinte de estilo neoclássico,
residência de vários presidentes antes da revolução. Seu acervo
conta com uma documentação completa, fotos, filmes da libertação
cubana, assim como a exposição do barco Granma. Também
várias homenagens à vitoriosa batalha da Baía dos Porcos.
Ainda no período inicial da prova, vou correndo displicentemente.
Deixo apenas os quilômetros passarem lentamente, como
em um slow-motion.
Logo depois do Museu da Revolução, em torno do terceiro quilômetro,
me aproximo lentamente de uma maratonista morena,
alta, cabelos lisos e pretos. Alargo o passo. O meu pace é confortável.
Ela sente que me aproximo, mas não olha para trás. Quando
fico lado a lado, falo com firmeza: “Qué tal, guapa?” – Ela me olha
obliquamente. O rosto belo e suave brilha de suor. Tem olhos incrivelmente
dourados, beirando o tom amarelado dos lobos. Entretanto,
como uma gazela, parece correr sem esforço algum.
Confesso que gostaria de ter tido uma longa conversa. Mas ela
foi demasiadamente sucinta, monossilábica. Talvez não estivesse
bem treinada para falar e correr ao mesmo tempo. Perceptivelmente,
sua respiração se tornou ofegante. Quando se aventurava
a falar um pouco mais, era demasiadamente rápida e resvalando
num espanhol quase incompreensível. Depois de alguns minutos,
ela voltou à sua concentração, após trocarmos informações banais
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sobre Cuba e Brasil. Compreendi a situação, acelerei lentamente
os meus passos e a deixei para trás.
Poucos minutos depois, estou correndo no Malecón. Vejo à
minha esquerda o sempre visível Castillo de la Punta, com o seu
indefectível farol. Viro à direita e contemplo toda a orla marítima
mais famosa de Havana. Aqui o vento sopra com força, sempre.
Com tanta força, aliás, que parece um resquício do furacão Paloma,
que sacudiu a ilha na semana passada.
Agora prefiro correr só. Há um grupo à minha frente, mas
prefiro escutar apenas o barulho vigoroso das ondas se chocando
de tempos em tempos no quebra-mar. Neste ínterim, consigo
ouvir também o som da cinética humana. Os passos ritmados daqueles
que correm nas proximidades. É fascinante!
Pouco mais de uma hora de corrida – calculo superficialmente
pela quantidade de quilômetros – entro no Vedado, o bairro
moderno de Havana, de arquitetura bem distinta da Velha Havana
e do Centro Habana. Ali estão alguns cinemas, pizzarias e
bons restaurantes. À noite, o bairro se transforma e se divide em
territórios. Há o pedaço dos maricones, no final do Malecón. Há
o dos mais ou menos punks, o dos travestis, o das lésbicas e o das
prostitutas de luxo. Todas estas tribos convivem pacificamente
numa sociedade socialista.
No bairro Colón, avisto um companheiro de maratonas, o
peruano Pablo, acompanhado de um grupo de conterrâneos.
Aproximo-me lentamente e me envolvo no alegre bate-papo. Alterno-
me sistematicamente entre os participantes deste simpático
grupo, enquanto vou reconhecendo as ruas simples deste bairro,
cenário constante do livro A Trilogia Suja de Havana, de Pedro
Juan Gutierrez. E continuamos em grupo, de volta ao Centro Habana,
onde passaremos pelo limite da meia-maratona.
Quando entro na Plaza de La Revolución, vejo estupefato o
enorme rosto de Che Guevara na fachada central do prédio do Ministério
do Interior. Esta praça bem conservada, harmonicamente
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bela, possui no seu centro o imponente monumento a José Marti,
que se torna até pequeno, diante do monumentalismo da silhueta
de Che.
Finalmente chego à meia-maratona. Agora tenho que repetir
o mesmo percurso de volta. A Marabana é como muitas maratonas
ao redor do mundo. Os corredores passam pela chegada da
meia. A diferença aqui é que repetimos o mesmo percurso anterior.
Muitos optam por parar na metade, isto é, concluir apenas a
meia-maratona. Por isso, a quantidade de maratonistas diminui
sensivelmente, restando apenas os bravos guerreiros da competição
completa.
Volto a passar em frente ao Museu da Revolução. Mas agora
por volta do quilômetro trinta e dois. Então percebo que o mar
enfureceu-se de vez lá no Malecón. O vento sopra com uma ferocidade
atroz. A ressaca inunda toda a avenida, despejando uma
enorme enxurrada de água sobre os corredores. Com extrema dificuldade
enfrento todo o trajeto de volta, com um sem-número
de subidas e descidas.
Bem perto do final, por volta do quilômetro quarenta e um,
passo por um americano. Ouço claramente as reclamações exasperadas:
Goddammit, it hurts all over, my fucking legs! Tento animá-
lo. Mas sei que, nesta situação, não há nada a fazer, senão
arrastar-se com resignação até o pórtico de chegada. Que atravesso,
finalmente, com certo alívio!
Depois de ter corrido tantas maratonas, já não sinto tão fortes
emoções na chegada. Quando cruzo a linha, não choro e não
considero um clichê mencionar isto. O que sinto é um estado de
êxtase, uma sensação física de liberdade, provavelmente desencadeada
por reações hormonais alimentadas primordialmente pela
grande quantidade de endorfina.
No entanto, esta maratona em particular me emocionou profundamente.
Principalmente por estar aqui entre este povo tão
sofrido e tão alegre ao mesmo tempo. É por isso que, em provas
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como esta, não busco uma coroa de louros, tampouco procuro
bater o meu próprio recorde constantemente. Busco, sim, conhecer
as narrativas de vida dos corredores, os fatos históricos, a origem
das cidades por onde corro.
Dessa maneira, exaurido e entorpecido, sento-me no meio-
-fio. Com o corpo molhado, cabelos desgrenhados e a medalha no
peito, observo os basureros removendo alegremente a sujeira da
sarjeta e da área de chegada. Vejo alguns policiais em dupla admirando
os atletas que displicentemente vão e vêm. Os pedintes
que me estendem as mãos. E o condutor de charrete Lorenzo, que
se aproxima e quer apenas a amizade de um brasileiro. Vejo os
felizes retardatários chegarem estoicamente, com total satisfação,
estampando no rosto a felicidade por mais um desafio vencido.
Com toda esta atmosfera suave, inundada por um sol flébil
e morno de outono, lembro a minha frase preferida de Che: “As
tantas rosas que os poderosos murchem nunca conseguirão deter
a primavera.”
Deixo Cuba, portanto, carregado de emoções vivas. Penso na
América do Sul e em suas veias abertas. Penso ainda que, se atravessarmos
toda a América dita Latina em direção ao sul, veremos
os seus contrastes, os desertos, suas cadeias de montanhas, seus
campos verdejantes, e chegaremos ao fim do mundo. Um caminho
que o explorador europeu trilhou há séculos.

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Corredoras e Segurança

De tempos em tempos há um aumento da preocupação com a segurança de mulheres que praticam corrida. O assassinato de Ashling Murphy (*), em janeiro deste ano, provocou a mais recente onda de interesse por esse assunto, além da revolta em relação ao tema. Cerca de metade das mulheres que praticam corrida dizem que já foram assediadas durante a atividade física. A indignação das mulheres em torno desse assunto é bastante significativa. Esse cenário tem que mudar. Mas como?

Recomendações recentes e discutíveis
Historicamente, as recomendações têm focado em como as mulheres podem agir para se protegerem. Entre essas recomendações inclui não correr sozinha, não correr em certas áreas, não se vestir de certa maneira, etc. Não é surpresa que tais recomendações nem sempre sejam bem aceitas. Embora muitas vezes as recomendações sejam bem intencionadas, e, às vezes, até sensatas, é no mínimo injusto, o fato de se esperar que as mulheres estejam, na grande maioria das vezes, mais em risco e sejam mais “cuidadosas” do que os homens.

Ideias ‘novas’
O desejo de abordar a causa raiz do problema vem ganhando força. Se pudermos incentivar o bom comportamento, especialmente dos homens mais jovens (que constituem a grande maioria dos infratores), isso deveria, em teoria, diminuir a taxa de assédio além de outros comportamentos. Se pudermos encontrar um meio de fazer isso, o mundo pode ser um lugar mais seguro para a prática de corrida para todos.

Foram feitas diversas boas sugestões com as quais realmente concordamos. Entre elas estão:

·         Confrontar declarações injustas/ofensivas em situações sociais
Ao argumentar ativamente amigos, colegas, etc. quando comentários misóginos (e similares) são feitos, estabelece/reforça que tal posicionamento é inaceitável.

·         Correr tendo maior consideração pelas mulheres corredoras.
Na verdade, esta é uma lista de sugestões, principalmente para os homens que praticam corrida, sobre como correr de uma forma que não deixe as mulheres nervosas, por exemplo, avisar quando você está prestes a ultrapassá-las, e deixar o máximo de espaço possível ao fazê-lo.
Temos consciência de que isso não reduzirá o perigo ou o assédio. É improvável que a “minoria problemática” torne-se mais gentil. Entretanto, se uma maioria bem intencionada mantiver ou adotar estes hábitos, temos a esperança de que, de alguma forma, isso irá prevenir ou reduzir o mal-estar.

O governo e os órgãos públicos mostram tolerância zero ao assédio
O setor público e as organizações esportivas precisam promover ativamente um comportamento digno e reprimir qualquer forma de assédio. Como disse o Diretor de Desenvolvimento da UKA, Mark Munro: “Devemos permanecer juntos e ter tolerância zero em relação a qualquer comportamento desse tipo, além disso, temos que garantir que qualquer pessoa se sinta confortável e tenha o direito de praticar exercícios em público em segurança”.

Fonte: Runner 247

Tradução: Eagle Translations

(*) Ashling Murphy era uma professora primária irlandesa de 23 anos que na tarde de 12 de janeiro de 2022,  foi atacada e morta enquanto corria ao longo do Grande Canal nos arredores de Tullamore, Condado de Offaly, na Irlanda. O assassinato provocou um novo debate sobre a violência contra as mulheres, e vigílias para Murphy foram realizadas em toda a Irlanda e no mundo. Um homem eslovaco de 31 anos, Jozef Puška, foi preso em 18 de janeiro e acusado de seu assassinato no dia seguinte.

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