A 125ª Maratona de Boston será realizada no dia 11 de outubro, com um número menor de participantes devido à pandemia. Com o limite de 20 mil inscritos e uma janela maior (por conta do cancelamento da edição 2020) para comprovação índice, o tempo de corte para a disputa aumentou para 7:47, deixando muitos de fora. Se os sonhos de alguns foram interrompidos, aqueles que conseguiram, em maio deste ano, confirmar a participação na edição 2021 estavam, sem dúvida, esperançosos de que em outubro a pandemia já estivesse controlada e as regras para entrar e sair dos países já estivessem normalizadas. No entanto, o tempo passou e não foi bem o que aconteceu. Muitas ainda estão bem rígidos em relação à autorização de turistas, obrigando pessoas oriundas de algumas países, como o Brasil, a cumprir quarentena para atravessar algumas fronteiras.
Com isso, a “ginástica” para criar um roteiro para chegar a Boston passou a ser o principal requisito para nossos inscritos que ainda sonham em correr a prova. A maioria deles optou por quarentena no México ou algum outro país da América Latina para poder entrar nos Estados Unidos sem problemas.
A paulistana Nanci Vilano de Salvo reside em Blumenau e em Florianópolis, SC, e aproveitou o filho que mora em São Paulo para montar sua logística de viagem rumo aos Estados Unidos.
“Ao realizar a inscrição, minha intenção era participar da maratona com ou sem quarentena. E me planejei adequadamente para que fosse desta maneira. Farei a quarentena em Cancún”, conta Nanci, que viaja na terça, 21/09, de Guarulhos, SP, para o destino inicial da sua viagem rumo a Boston.
No caribe mexicano, a ideia é ficar em 3 resorts diferentes e talvez até e incluir no roteiro uma passagem por Playa del Carmen, que fica a 70 km de Cancún. E, como a planilha não pode parar, as hospedagens foram escolhidas a dedo. “Selecionei tudo levando em consideração a opção de possuir academia, pois não deixarei de seguir a planilha do coach Marcos Paulo durante este período”, explica a corredora, que vai para sua terceira vez em Boston. A primeira em 2017 e a segunda em 2018. “Na primeira tive uma amidalite uma semana antes da prova e precisei mudar a estratégia da corrida. Mesmo assim fiz uma ótima prova. Na segunda vez, foi o ano que choveu torrencialmente. Terminei, mas não foi nada fácil. Treinei exclusivamente para Boston. Vou descansar, continuar treinando e estar preparadíssima para a prova.”
Antes de embarcar com destino aos EUA, dois dias antes (06/10) Nanci fará o teste de Covid, exigido para entrar no país. “Poderá demorar até 24 horas para estar disponível. E, caso tenha algum erro, ainda terei tempo para refazer o exame.”
O casal Anamélia e João Dami viaja para o México nesta segunda, dia 20/09, para completar pela terceira vez a prova. “Reservamos um apartamento em Playa Del Carmen e ficaremos lá até 06/10. O teste de Covid dando negativo, embarcaremos para Boston no mesmo dia. Em Boston vamos ficar em hotel, aproveitar a cidade e seus parques lindos. E entrar na vibe surreal da maratona”, conta Anamélia, que aproveitou a viagem para planejar mais uma maratona nos Estados Unidos. “Dia 12/10 vamos para Nova York, onde no sábado 16/10 correremos a NYCRUNS Prospect Park, no Brooklyn.”
A corredora Tatiana Lima Valério, de Curitiba, PR, completará sua quarta Maratona de Boston este ano, além da virtual em 2020. Ela optou por fazer a quarentena na Cidade do México, para onde embarcou no domingo, 19/09, saindo de São Paulo, aproveitando uma viagem a trabalho à capital paulista. “No dia 08/10 vou para Boston, contabilizando os 14 dias completos exigidos de quarentena, mais 4 dias extras de segurança para não gerar questionamentos”, conta Tatiana, que não vai incluir nenhuma prova durante a quarentena.
A última maratona presencial da paranaense foi em 2019, exatamente em Boston, que com certeza tem um lugar especial no seu coração. “Quero completar 10 consecutivas lá.”
Quem está prestes a completar sua 10ª maratona só em Boston é o mineiro Paulo Lima, de Uberlândia. Com 277 maratonas completadas em 41 países e 5 continentes, a pandemia adiou o sonho das 300 e Nilson vai aproveitar a viagem para dar uma esticada a mais e aumentar o número de maratonas no já recheado currículo. Serão oito programadas em menos de 40 dias.
Ele também viaja nesta segunda, dia 20/09, para Guadalajara, no México, onde cumpre a quarentena, e já tem a primeira maratona programada para o próximo fim de semana. Fará no dia 26/09 a Maratona de León. No dia 06/10, viaja para Boston e, no final de semana seguinte, 09/10, corre a Maratona de Hartford, em Connecticut. Dois dias depois, na segunda, 11/10, faz sua 10º Maratona de Boston.
“É uma prova repleta de história: a mais antiga do mundo. A exigência do qualify faz dela o ‘selo de qualidade’ do maratonista. O envolvimento da população é impressionante. Foi lá pela primeira vez que uma mulher correu os 42 km, disfarçada de homem”, lembra Nilson apenas alguns alguns detalhes que fazem de Boston tão especial. “Tenho um amigo brasileiro, Paulo Fernandes, que mora lá há 17 anos e há 5 anos tenta ser sorteado para trabalhar como voluntário. Este ano ele conseguiu e estará no km 18, servindo água.”
Depois de Boston, Nilson ainda tem pela frente as Maratonas do Brooklyn, NY (16/10), Atlantic City, NJ (17/10), Cleveland, OH (24/10), Marine Corps, Washington, D.C (31/10), antes de terminar seu roteiro em grande estilo, na celebração dos 50 anos da Maratona de Nova York (07/11).
Também da cidade de Uberlândia, MG, a corredora Neiva Temporim Ribeiro não teve dias fáceis no último ano. “Resolvemos aqui em casa me dar esse presente. Além da pandemia, um câncer de mama entrou no caminho. Mas já estou recuperada e treinando dentro das novas limitações impostas pelo tratamento. Mas o mais importante: estou viva e cheia de vontade de correr”, comemora Neiva, que carimbou o passaporte para Boston com o qualify obtido em 2019 na Maratona de Chicago.
Sua viagem rumo ao sonho de Boston começa também nesta segunda, 20/09, quando segue para o México para fazer a quarentena em Playa del Carmen. Como parte de preparação para a maratona, além dos treinos, fará uma meia maratona virtual pelas ruas de Playa (Corrida da Ame). A viagem para Boston está marcada para o dia 06/10.
“Após Boston, vou descer para a Flórida para visitar amigas e depois subo para Nova York para correr a maratona no dia 07/11.”
Se a maioria já está com seus roteiros de viagem praticamente organizados e planejados, o mesmo não podemos dizer do gaúcho Jacques Fernandes, que mora em Sintra, Portugal, e está vivendo um “drama” à parte para conseguir confirmar sua presença pela 8ª vez seguida em Boston, desde 2013, além da virtual em 2020.
Não bastasse a questão da necessidade de quarentena, ele ainda precisa resolver a renovação do visto para entrar nos Estados Unidos. “Minha programação está bem doida ainda. Estou planejando ir para o México na terça (21/09) e ficar lá tentando resolver isso. Tenho acompanhado no mundo todo os consulados e o único lugar que eventualmente abre uma vaga é lá. Já aconteceu por duas vezes de eu olhar e ter uma vaga no dia seguinte para Tijuana ou Laredo”, conta Jacques, que tem uma ligação muito forte com Boston e por isso o esforço de querer estar lá. “Muitas coisas importantes marcaram outras edições que corri da prova, como o ano do atentado, a morte do meu pai, corrida com amigos, o bonde do sub 3h. Cada ano teve seu momento e sua história. É uma maratona que corro leve e os quilômetros passam voando. Sinto como se o público me carregasse. Ou quem sabe mesmo meu pai correndo comigo!”
Anamelia Tannus Dami
setembro 21, 2021Fantástico viver essas dificuldades e adversidades para realizar os sonhos. Pedimos a Deus nos proteja nessa jornada. Neiva, Anamelia e João.